Parte-se da premissa de que os dispositivos imagéticos, na atualidade, são produtores de uma experiência que convoca o corpo, tanto na sua qualidade sensória quanto motora, como elemento fundamental na relação entre dispositivo (ex: uma escada; uma ponte; cabos de comunicações; etc.) e imagem. A exploração do dispositivo prescinde de um corpo, que, no seu percurso, é o que vai constituir a obra, fazendo da imagem o lugar de uma experiência que abre caminho para um diálogo com outros media. Nestas circunstâncias, a fotografia abre-se ao múltiplo, cruza-se, produz atravessamentos e integra um contexto de virtualidades.

Cada vez mais, a arte privilegia a imagem como o lugar das experiências, no qual o observador é convocado a participar de modo a evidenciar que não há obra independente de uma experiência. A imagem parece perder o estatuto de autonomia dentro da História da Arte e passa a privilegiar a relação que pode ser estabelecida com os dispositivos, a partir das experiências dos observadores.

Neste conjunto de fotografias designadas como “Lugar e Corpo” não se pretende

“a fotografia legítima do lugar”, mas sim a forma como este conjunto de fotografias vai produzir algum tipo de reflexão sobre esse local, permitindo às pessoas pensarem de maneira diferente sobre a paisagem e o ambiente e, assim, poderem avaliar a forma como diferentes grupos de pessoas se relacionam de maneira peculiar com o seu corpo e com o que os rodeia.

Em “Lugar e Corpo”,  interessa explorar quer as diferentes maneiras de questionar a terra, os locais e a forma como as histórias transformam os espaços em locais, quer o modo como as diferenças entre as várias abordagens acabam também por construir uma identidade: também se é pelo que não se é. Pretende-se captar esses lugares do corpo, das várias camadas que vão ocupando um lugar no lugar do conhecimento, sempre que surge um novo corpo, sempre que surge um novo lugar, representado por objectos feitos pelo homem.

“Lugar e Corpo” pretende levantar questões sobre a forma como o indivíduo ocupa e pensa o espaço que habita, ou seja, como constrói o “sentido do Lugar”.

Do mesmo modo, este ensaio fotográfico não visa dar respostas acerca da representação do corpo no lugar ou o lugar do corpo, mas sim sugerir uma reflexão sobre as representações do corpo no lugar e as manifestações de uma presença no mundo, uma forma encontrada pelo humano para projectar, recriar ou restaurar a sua imagem, eleger o seu modelo.  

Lucília Monteiro

 

Lucília Monteiro nasceu em 1966 em Santa Cruz, na ilha da Madeira. Em 1988 ingressou no Curso Superior de Fotografia na Escola Superior Artística do Porto e iniciou, seguidamente, a sua carreira de fotojornalista. Em 2014 mestrado em fotografia e cinema documental.

De entre as experiências em conceituados jornais e revistas portugueses (O Liberal, Sábado, Expresso e Visão), destacam-se as reportagens sobre a guerra na Bósnia (1995), as minorias étnicas na China (1998), o golpe de Estado na Venezuela e a guerra em Angola (2001).

O seu trabalho fotográfico pode encontrar-se em publicações individuais – À Descoberta do Porto, com textos de Germano Silva (Editorial Notícias, 1999) e Tibete: Quase o Céu (Dividendo, 2000)-, bem como em colectivas, entre elas: Beelden in Vervoeing (Porto Capital Europeia da Cultura, 2001), O Porto e os Seus Fotógrafos (Centro Português de Fotografia, 2001), Metáforas do Sentir Fotográfico (Centro Português de Fotografia, 2002) e Fotografia no Douro: Arqueologia e Modernidade (Centro Português de Fotografia, 2006). O seu livro ex-votos foi premiado no fotobook show em Londres (2014).

Ao longo dos anos, e para além do fotojornalismo, tem participado em projectos artísticos em exposições: As Sombras do Porto (Casado Infante, Porto, 1989), Os Pés (Galeria de Vila Nova de Cerveira,1999), O Mito da Caverna de Platão (Galeria Artes em Partes, Porto), Tibete (Fnac, Galeria do Clube de Jornalistas, Casa da Cultura de Santa Cruz, 1999) e Luz (Galeria das Salgadeiras, 2013).

Das participações em mostras colectivas, destaca-se a mais recente, na A Duas Velocidades: olhares, visões e expressões da paisagem contemporânea da Madeira (Centro das Artes Casa das Mudas, 2013), resultante de uma residência artística. Desenvolveu um trabalho, no âmbito do mestrado, “Ex-voto” na Casa das Artes, no Porto, e na Porta 33, na Madeira..

Em 2004 é reconhecida com o Prémio Imprensa Troféu Beatriz Ferreira, atribuído pela Casa de Imprensa. Actualmente, Lucília Monteiro é fotojornalista da revista Visão e do jornal Expresso.