Tudo se inicia e termina com a natureza. E o antropomórfico realiza-se. Perdurará?

Ana Margarida Ferraz

Não é fácil transformar imagens em palavras, pelo menos para mim, assim como não é fácil o ser humano aceitar o poder da natureza. De facto, a Natureza já cá estava quando chegámos e consegue perfeitamente viver sem nós. O contrário é que é mais difícil, senão impossível. O ser humano é um caminhante insatisfeito que muda frequentemente de lugar. Sendo assim, a deslocação vai no sentido de uma procura de superação d, fixação e da sua condição de mortal. A Natureza e o ser humano não são estáticos, transformam-se no tempo e deslocam-se no espaço. Estão em movimento. Por isso, apresento um conjunto de cinco imagens em sequência (fotografia digital com intervenções gráficas), que pretendem evocar a vivência das pessoas no espaço natural/artificial. Represento vários locais (solos diversos, o mar, as rochas e pedaços de céu no horizonte).

Nessas imagens, insisto na minha presença, tanto como fazedora e fruidora da realidade, como transformadora do real através de registos gráficos ficcionais. Referencio os lugares por onde transitam as gentes que se querem fixar e modificar quer por um tempo determinado, quer para uma fixação permanente. Ao acrescentar seres antropomórficos, estou a procurar estabelecer uma analogia entre a dimensão objetiva da natureza e a imaginação, um atributo do humano. Deste modo, através da fusão com as rochas, encontrei semelhanças com seres grandiosos numa disputa de força entre o espaço natural e a dimensão humana. Procurei mencionar o desejo utópico de ultrapassar os limites biológicos da sua condição.

Represento os solos por onde caminham as gentes. Não interessa definir exatamente de onde. Metonimicamente, todas estas imagens representam um lugar, rural ou citadino, específico ou genérico, que não é importante identificar, pois aludem a todos os lugares do mundo. As representações gráficas baseiam-se em troncos de árvores (da Vida) que se assemelham às estradas de um mapa que assinala a mudança para outros locais. Aparece um artifício usado pelo indivíduo. O sapato (símbolo da caminhada/procura) deixado, deliberadamente ou não, na natureza, assinala que alguém por ali passou. É um artifício que indica percursos diversos. Finalmente,, aludo à existência das pessoas de passagem num local citadino. O ser humano edifica, constrói a sua urbe, desloca-se, mas, um dia, acaba. A natureza modifica-se, mas permanece no tempo, demonstrando a sua grandiosidade.

Tudo se inicia e termina com a natureza. E o antropomórfico realiza-se. Perdurará?

Ana Margarida Ferraz

Ana Margarida Ferraz nasceu em 1964 em Pemba (Moçambique). Veio para Portugal no ano de 1975. Fixou-se na Madeira até 1999. Na Ilha, estudou na Escola Secundária Francisco Franco e licenciou-se em Artes Plásticas/Pintura no ISAD/UMa. Paralelamente dedicou-se ao Ensino. No campo artístico participou em diversas exposições coletivas de artes plásticas na Madeira, Porto Santo, Lisboa, Porto, Beja e Macedónia. Fez cinco exposições individuais. Mudou-se para o continente português, continuando a exercer funções docentes em Lisboa, Cascais, Vila Franca de Xira e Viseu – atualmente é professora do QA da Escola Secundária do Forte da Casa.

Está representada em diversas coleções públicas e privadas: Museu de Arte Contemporânea na Madeira e na Fundação da Juventude no Porto.
Obteve o prémio Fotografia 92 (Fundação Berardo) e a Menção Honrosa no III Concurso Nacional dos Jovens nas Artes Plásticas – Francisco Wandschneider (Fundação da Juventude).

Vive e trabalha em Lisboa.

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