Imagem de capa © Duarte Santo

Coordenação e Edição do n.º 3 – Ana Salgueiro 

Convite à publicação aqui

 

 ouverture _ pre.lú.di.o  | Ana Salgueiro 

 ENSAIOS | ESSAYS
Drifting Within Navigation. Multiple Fields of Experience and Ecology of Practices |  Sara Anjo

Abstract: This essay is a reflection about the artistic research I developed during the Das Choreography master’s programme (2014–2016). During that dance field based research, I followed a process of drifting within navigation, working with detours, while a direction was being revealed. This process was based on several artistic practices and performative events such as dances, walks, meditations, audio choreographies, maps, and scores, among others that generated an environment of multiplicity. The research also explored multiple fields of experience as a process for thinking and sensing, for affecting and being affected, i.e., as a way to look at the body from it’s multiple perspective. It generated different encounters, and a collective work as a moment of experimental togetherness, unfolding openness to the unknown. An openness that unravels the pleasure of not knowing.

Keywords: drifting within navigation, multiple fields of experience, experimental togetherness, soliloquy, coliloquy, ecology of practices, intensive maps.

  Dois Ensaios com Terra, Tambor e Voz Humana  |  Daniel V. Melim  e  Maria Petersen

Se te aproximas do centro, o centro aproxima-se de ti. És um espelho de pele, com terra a suportar-te. Se te aproximas, o centro aproxima-se de ti. Podes ir buscar a velhinha doutrina das assinaturas para o explicar (Pearce, 2008), e parafrasear as ideias atribuídas a Hermes Trimegisto, dizendo que o que está em cima é igual ao que está em baixo, e que o que está dentro é igual ao que está fora (Ebeling, 2007), mas aproximares-te do centro nunca esgotará o mistério do lugar em que essa aproximação ocorre. Se te aproximas, é porque algo chama sempre, ainda que esse algo tenha o seu rosto inesgotável sempre voltado para o escuro. Podes dizer que o mundo se aproxima porque te aproximas do mundo, mas tens apenas vislumbres em fuga do padrão de luminosas cordas secretas que operam essa simetria constante. Sobre esta operação irresolúvel, e como uma alegria sem dono, pairam a luz e o som que acordam quando fazemos por nos aproximar vivamente do nosso espelho de carne e osso. Com a terra, aqui e hoje […]
  Nem às Paredes Confesso | Fátima Spínola 
O Teatro Municipal Baltazar Dias foi a minha “casa” durante dezoito meses, uma gota no oceano na vida de um espaço, cujas vivências iniciaram há 130 anos. Neste curto período de tempo, uma das minhas funções foi a de guiar os visitantes pelo espaço. Por detrás da história contada e recontada sobre factos e nomes que marcaram a cultura desta casa, o mais intrigante veio das paredes, das áreas de serviço e dos recantos mais escuros. […]
 DIÁLOGOS  | DIALOGUES
Tornar visível o que não se vê. Relato de uma Visita Encenada ao Teatro Municipal de Baltazar Dias  | Catarina Claro
 
Na temporada 2017/2018, o Serviço Educativo do Teatro Municipal Baltazar Dias, em parceria com a Associação Cultural Casa Invisível, apresentou à comunidade uma nova atividade educativa no âmbito do projeto Baltazar Júnior: as Visitas Encenadas “Prazer em Conhecer, Baltazar”. Quase quinhentos visitantes depois, chegou a hora de contarmos a estória de como aqui chegámos […]
  Entrevistas de Passagem [a projetos performativos contemporâneos translocais]
     Camões English Theatre Company (Lisboa) [conheça o projeto aqui ; Entrevista aqui]
“Fomos experimentando e aprendendo e foi assim que tudo começou”. Estas são as palavras com que, de forma lapidar e em tom de breve balanço, se apresenta hoje a Camões English Theatre Company(CETC, um projeto teatral em língua inglesa,fundado no ano letivo de 2010/2011 na Escola Secundária de Camões (antigo Liceu Camões). O propósito inicial parecia ser simples: levar à cena, em contexto escolar, o texto «​Hamlet» de Shakespeare. Contudo, a ​experimentação então iniciada frutificou e,de performance em performance, de aprendizagem em aprendizagem, de cada saída e entrada de (novos) membros, a CETC transformou-se num projeto com a solidez de quase uma década de existência, cuja atividade se estende também à criação dos próprios textos dramáticos que são depois encenados e que, entretanto, deixou de se circunscrever exclusivamente ao contexto escolar onde a sua sede permanece instalada […]
 
     New Maker Ensemble (London) [conheça o projeto aqui; Entrevista aqui]
O NME (inicialmente New Music Ensemble, hoje New Maker Ensemble) foi fundado em 2014, em Londres, por Rodrigo B. Camacho (Funchal, 1990) – um jovem criador português, então a finalizar a sua licenciatura no Departamento de Música da Goldsmiths University of London (composição e performance). Desde então, passaram pela direção vários membros, incluindo Sara Rodrigues que, atualmente, co-dirige o ensemble com Rodrigo Camacho. Hoje o grupo integra um conjunto variável de jovens artistas de diversas nacionalidades, cujo trabalho criativo, em circulação e disseminação internacional, se tem vindo a afirmar, quer pelo caráter inovador e transgressivo que manifesta, quer pelo rigor e qualidade dos projetos que desenvolveEste caráter translocal do NME assume maior densidade, pelo facto de o seu trabalho criativo se situar na fronteira instável ora da criação performativa com a investigação antropológica, ora do cruzamento transdisciplinar e interartes. Isto, sem, contudo, perder de vista o (provisório) enraizamento local, na opção pelo desenvolvimento de projetos site-specific, muitas vezes realizados no âmbito de residências artísticas, em que se procura uma relevante interação com as comunidades locais. 
     S. A. Marionetas | Teatro e Bonecos (Alcobaça) [conheça o projeto aqui]
 
     Teatro Feiticeiro do Norte (Funchal) [conheça o projeto aqui]
 
 
 OLHARES CRUZADOS | Merce Cunningham, John Cage & Funchal (1981-2018)

Em maio de 1981, a MERCE CUNNINGHAM DANCE COMPANY passava pelo Funchal, numa iniciativa promovida pelo Cine Forum do Funchal (Círculo de Cultura Musical) e com o apoio de, entre outras instituições, a Fundação Calouste Gulbenkian. Integrando um número alargado de artistas de várias áreas (e onde se destacava John Cage), a MERCE CUNNINGHAM DANCE COMPANY realizou 2 ‘espectáculos’ no Teatro Municipal de Baltazar Dias (a 26 e 27 de maio), que foram precedidos de um “colóquio” preparatório, realizado a 24 de maio na Sala de Congressos do Casino, e onde se destacaram as intervenções de Cunningham e de John Cage.

Em maio de 2018, o Departamento de Arte e Design da Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade da Madeira, em parceria com o Conservatório – Escola das Artes Engenheiro Luiz Peter Clode, evocou essa passagem da Merce Cunningham Company pelo Funchal, num conjunto de iniciativas intitulado “I Have Nothing To Say And I Am Saying It. Homenagem a John Cage e aos Plagiários por Antecipação em Portugal e Espanha (1903 – 1936).

Em “Olhares Cruzados”, reunimos um conjunto de colaborações que, em 1981 e em 2018, acompanharam esse encontro de Cunningham, Cage e o Funchal (com os seus públicos e os seus criadores).

[sem título] | José Maria da Silva (Cine Forum do Funchal)
O ouvinte tradicional disciplinado exerce uma censura mutiladora da riqueza sonora envolvente da obra musical, para afunilar percepcionalmente a música que quer ouvir.  A revolução musical de Cage  insurge-se precisamente contra esse género de atitude […]

Nota: republicação de texto de José Maria da Silva incluso no programa dos dois espetáculos promovidos pelo Cine Forum do Funchal, no Teatro Municipal de Baltazar Dias e maio de 1981.

John Cage – O Aleatório Contra a Alienação  | Teresa Pérez Silva

26 e 27 de Maio de 1981, 21.45h, Teatro Municipal Baltazar Dias, em cena: John Cage com a “Merce Cunningham Company”, dois espectáculos promovidos pelo Cine Forum do Funchal.
Num apelo à  memória, a esse repositório infinito de experiências guardadas no inconsciente, acendem-se luzes, surgem  imagens, símbolos, sonoridades, mas sobretudo emoções: a  imponente volta ao imprevisto, a precipitação no inédito, uma confrontação directa e integral com o herdado, com os sistemas convencionais de explicação e significado, o corte com os cânones, com as “prisões” estéticas vigentes, num acto inesperado e “violento”, uma confrontação com a forma  como a visão melódica do mundo me foi sendo programada. A vertigem de aprender, desaprendendo, um prelúdio a novas visões, a uma não gravidade,  a uma nova velocidade de adaptação aos reflexos, às diferentes formas de sentir o sentido. A busca de outras facetas da realidade veladas pelas sombras, porque nada tem uma só face, nada tem um só rosto! E cada rosto pode ser a sua própria máscara.[…]

Music of Changes: uma Interpretação  |  João Pedro Pupo
 
“I have nothing to say and i’m saying I”, a declaração quase paradoxal que aparece três vezes ao longo do livro Silence (Cage, 1961)  e o título da conferência em sua homenagem, realizada 29 de Maio de 2018 no Colégio dos Jesuítas, no Funchal. Foi com algum pesar que a inconveniência geográfica me impossibilitou de participar presencialmente. No entanto, foi-me dada a oportunidade de o fazer na perspectiva de compositor convidado. […] aceitei a proposta para interpretar uma obra de Cage. Aproveitei a oportunidade para tomar a Music of Changes como minha, sendo que, de todo o seu repertório, é a peça que mais tem influenciado as minhas metodologias. Escrita em 1951 para David Tudor, pianista e seu frequente colaborador, Cage utilizou os 64 hexagramas do I-Ching em que, com moeda ao ar, recolheu dados para definir orientações e decisões para compor a Music of Changes. […]
Exemplar no. 1 (2016)  | Rodrigo B. Camacho  e  Sara Rodrigues
“Exemplar no. 1” é um pequeno ensaio sobre performatividade quotidiana, sobre a invisibilidade (ou melhor, sobre a inaudibilidade) dos pequenos gestos e, inevitavelmente, sobre a negação sensibilizante dessa mesma imperceptibilidade, desse silêncio. […]
 NOTAS de LEITURA e de EXPERIÊNCIAS PERFORMATIVAS | BOOKS & PERFORMANCES REVIEWS
 
Basalto, uma arma de fogo – Artitude [em modo Aula Pública] de António Barros [Coimbra, maio de 2017] | Nota de experiência performativa de Augusta Vilalobos Nascimento (FPCE – UC)
 
Sandro Patrício Gama Nóbrega (2018), Leitura em voz alta na aula de Português. Espaço(s) e modo(s) de intervenção | Recensão crítica de Cristina Mello (FL-UC)
 
Baltazar Dias, org. José Eduardo Franco, Luísa Antunes Paolinelli e Cristina Trindade (2018) | Recensão Crítica de Annabela Rita (FL-UL)
 
 
   Partilhamos AQUI algumas sugestões de livros, cuja apresentação crítica consideramos ser potencialmente interessante para a discussão em torno do tema de capa deste n.º 3 da revista TRANSLOCAL. Esta lista não é, contudo, exclusiva. BOAS LEITURAS!