Imagem de capa © Lucilina Freitas

“Qual a caixa que escolho? Memórias do comércio tradicional” [fotografia]

Coordenação  | Ana Salgueiro (UMa-CIERL/CECC-UCP)

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Data limite para receção de propostas para publicação | 31 de outubro de 2022  15 de novembro de 2022

 Ouverture _ pre.lú.di.o  

ENSAIOS VISUAIS | VISUAL ESSAYS
Trinus |  Cláudio Garrudo e Ana Matos (Galeria das Salgadeiras) [08.10.2022]
“Há um lado de expedição, quais navegadores a quem Pompeu terá dito “Navegar é preciso, viver não é preciso”, neste conjunto de obras que Cláudio Garrudo apresentou na Galeria das Salgadeiras em 2018 e, em 2022, na Galeria do MUDAS. Museu de Arte Contemporânea da Madeira, e que resultou de uma residência artística em alto mar, a bordo de um cargueiro, com destino a uma terra cujo nome não é o mais relevante. Mantenha-se o mistério da chegada, já que, como diz Miguel Torga no poema “Viagem”, que acompanha esta exposição, “O que importa é partir, não é chegar”. Do topo dos contentores ou da torre do navio, Cláudio Garrudo registou, em diversos momentos do dia, o que tinha à sua volta, mar, só mar. Talvez não… […]”
Degraus |  Isabel Santa Clara (Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira e ARTIS. Centro de Investigação do Instituto de História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa) [21.12.2022]
“Em criança, as casas que conhecia eram “seres verticais” (BACHELARD, 1961: 45), levantando-se da cave ao sótão em andares sucessivos, com as suas imprescindíveis escadas, umas claras e bem lançadas, outras misteriosas e abismáticas. Gostava de desenhar degraus em folhas quadriculadas subtraídas aos deveres escolares ou em qualquer restinho de papel e descobria com estes rabiscos o poder evocador de um simples e desajeitado traço. Em Uma exposição com pintura e tudo, em 1990 (Imagem 1), tive oportunidade de ocupar temporariamente os quatro andares do espaço da torre da Casa-Museu Frederico de Freitas e reacenderam-se estas memórias. […]”
Espaços de espera Djuly Gava  [06.01.2023]
O processo de atravessar cidades, ir de um espaço ao outro, aos poucos mostrou-se para mim como a possibilidade de um trabalho artístico que relacionasse prática e pesquisa em Artes Visuais. Espaços de espera trata-se de uma série fotográfica composta por imagens em 35mm registradas ao longo de seis meses durante caminhadas pelos distritos da cidade de Nova York, entre 2019 e 2020. A série faz parte de minha dissertação de mestrado intitulada assimilações da cidade e nela apresento um conjunto de imagens que retratam o vazio e o silêncio de diversos estabelecimentos fechados ou em reforma. Em alguns desses espaços vazios e silenciosos o que se nota são rastros deixados de uma jornada de trabalho, há latas de massas corridas e paredes prontas para a pintura. Em breve um novo espaço ali irá se instalar. Noutros o que se vê são suspensões ou fim de algo nos amontoados de caixas, entulhos, ferramentas. São espaços que evocam uma temporalidade outra, de um tempo lento e que se refaz todos os dias. Fotografei cada um desses espaços através de sua vitrines, onde era possível observar todo o interior desses locais sem que houvesse ali alguma preocupação com o ornamento dos objetos deixados expostos. Entendo a cidade como um território marcado por esferas históricas, onde posso acompanhar sua evolução, encontrando em suas brechas de tempo a simultaneidade de alterações que ela sofre diariamente, gerando desvios e implicando em outras formas de reconhecê-la e de habitá-la. A contínua construção do espaço da cidade aponta para uma existência atravessada, justamente por ser constituído de relações múltiplas que ressaltam novas vistas para o íntimo e o aberto de suas diferentes paisagens, dos fluxos incontáveis de seus passantes, das relações que se cria ao caminhar e desbravar suas margens, seu entorno.
As voltas do Porto Novo. A pedra dos bodiões. A bebreira do Simão | Lucilina Freitas  [10.01.2023]
O Tiosque. A Portada do Porto Novo. As terras de barro. A casa do Cairinhos. A casa do Castanheta. A casa das Tifreiras. O caminho da Rocha do Gato. A bebreira do Simão. O caminho do Rei. A venda de José Jorge. O caminho dos mercadores. A fábrica dos blocos. A Ponta da Polé. A vereda da Polé. O cais novo. A pedra dos Bodiões. O cais velho. A furna dos Lobos. O cabo do calhau do Porto Novo. A furna do Mouco. O reduto de São Marcos. A casa do Cassarte. O Engenho do Constantino. O forno no sopé da rocha do Gato. A casa do Constantininho. A casa dos burros. O Camalhão. A lagoa. A Fábrica de papel.  Estação de Cabos submarinos Marconi. A ribeira do Porto Novo. O Caminho das Voltas. O lindinho, cavalo da Senhora Bela. O chão do Porto Novo. As amoreiras do Porto Novo. A ribeira do Tanque. A casa de António Frizado. As bananeiras. A ponte sobre a Ribeira do Porto Novo. Os arcos da ponte. A ribeira cheia, em tempo de muita chuva, transbordava atravessando os 4 arcos da ponte em direção ao mar rebentando o camalhão. No topo da rocha, juntavam-se os habitantes das redondezas, para ver a água de canto a canto, pelas voltas da ribeira até ao camalhão. O vale do Porto Novo. A chegada das andorinhas. O Santo. O chão da erva d’água. A furna da Samartinha. A rocha do Menino. A fonte do poço do Menino. A casa da Beleza. A nascente do poço da Beleza. O poio da figueira doce. A casa velha. A fonte do cabeço. Os seiceiros. O poio da Balseira. A Água de d’alto. O poio da Ribeira. As terras do Porto Novo. A casa do Neves da Cova. A vinha do Pontinhas. A encosta do sumagre. O palheiro do Celestino. A rocha da hisópia. A balseira. O caminho do cardal. A Rocha Grande. O Caramachão. A Furna do Diabo. O poio dos porcos.
Em torno de BLUETTE de Carla Cabral | Débora Rodrigues  [03.01.2023]
O presente ensaio visual resulta de um diálogo em silêncio com a Bluette. Momento de reflexão sobre a velocidade ou a lentidão da vida: “o tempo, a memória e o sonho podem fundir-se e […] o dever do leitor [o espectador] é deixar-se apanhar no turbilhão da sua luta sem solução” (ECO, 1995: 77). E foi de uma caixa escura que libertei a Bluette, lentamente. No silêncio do meu quarto, a Bluette segredou-me: “o mundo dos outros é vermelho, apenas vermelho!”. Aí compreendi que o meu mundo era vermelho. Eu também sou o outro. Convoquei a Bluette para o mundo dos outros. Mais tarde, a Bluette, objecto físico e artístico de Carla Cabral, uma personagem que iniciava uma longa viagem, libertando-se do mundo vermelho, percorreu ruas e avenidas, em Lisboa, interagindo com estranhos de várias nacionalidades. Outras tantas pessoas, levadas pela curiosidade, procuraram conhecer a sua história e questionaram a sua origem. Os outros viam, apenas, uma figura com uma casa plantada na cabeça. Porém, a representação da Bluette ficou sempre aprisionada no mundo vermelho.
 
ARTIGOS  e  ENSAIOS | ARTICLES  and  ESSAYS
Insularidade na criação poética: autoexílio e mistério |  Dalila Teles Veras  [13.08.2022]
” […] Sou uma escritora brasileira que nasceu em Portugal. Não posso ser uma escritora portuguesa escrevendo como brasileira. A sintaxe não é a mesma, ainda que as raízes do lugar fundador permaneçam a fustigar a memória que, de forma consciente ou não, recrio em minha outra voz, a da poesia. Ter duas pátrias, como no meu caso, é viver em estado permanente de exílio.
Acredito que, independentemente do deslocamento físico, todo o escritor se recolhe em alguma espécie de ínsula como forma de autoexílio para que possa, observador incansável dos avessos daquilo que anda à sua volta, do que lhe diz a imaginação e o refletir, acontecimentos depois transfigurados na forma de poemas. […]”
 
O translinguismo na língua falada de um migrante madeirense na África do Sul e na Venezuela: relato de memória e identidade translocal e transcultural |  Naidea Nunes Nunes  (Universidade da Madeira, Centro de Investigação em Estudos Regionais e Locais da Universidade da Madeira, Centro de Linguística da Universidade de Lisboa) [22.08.2022]
Resumo: A partir da entrevista feita a um migrante da Madeira na África do Sul e na Venezuela, faz-se um estudo qualitativo temático e linguístico, baseado na linguística de corpus, no conceito de translinguismo e na linguística sociocultural. A análise temática centra-se na emigração madeirense para a África do Sul que, como fuga ao serviço militar na guerra colonial portuguesa, decorreu sobretudo nos anos 60 do século XX. Os clandestinos viajavam para Moçambique, mais precisamente para a atual cidade de Maputo, sem necessidade de passaporte. Depois, tentavam a sua sorte através da passagem clandestina da fronteira ou “a salto” para a África do Sul, onde o entrevistado foi preso por estar a trabalhar ilegalmente. Regressou à Madeira e foi para a guerra na Guiné-Bissau. Quando terminou o serviço militar, emigrou para a Venezuela, onde esteve mais de 40 anos, tendo regressado à sua terra natal em dezembro de 2016, devido à grave crise social e económica naquele país. A análise linguística da fala do migrante, através do relato de memória, permite observar a sua identidade sociocultural e translocal ou transcultural. O informante bi/multilingue recorre ao translinguismo, mescla do Espanhol da Venezuela com o Português, e a algum léxico do Inglês ao falar da África do Sul, revelando também traços caraterísticos do Português falado na Madeira e do Português popular.
Palavras-chave: Translinguismo; Transculturalismo; Emigração madeirense; África do Sul e Venezuela; Identidade; Linguística Sociocultural.
Abstract: Based on an interview with a migrant from Madeira in South Africa and Venezuela, a qualitative thematic and linguistic study is carried out, based on corpus linguistics, the concept of translingualism and sociocultural linguistics. The thematic analysis focuses on Madeiran emigration to South Africa, which was an escape from military service in the Portuguese colonial war that took place mainly in the 60s of the 20th century. Illegal migrants travelled to Mozambique, more precisely to the current city of Maputo, without the need for a passport. Then they tried their luck by clandestinely crossing the border or “jumping” to South Africa, where the interviewee was arrested for working illegally. He returned to Madeira and went to war in Guinea-Bissau. When he finished his military service, he emigrated to Venezuela, where he spent more than 40 years, having returned to his homeland in December 2016, due to the serious social and economic crisis in that country. The linguistic analysis of the migrant’s speech, through the memory report, allows us to observe their sociocultural and translocal or transcultural identity. The bi/multilingual informant uses translingualism, mixing Venezuelan Spanish with Portuguese, and some English lexicon when speaking of South Africa, also revealing characteristic features of Portuguese spoken in Madeira and popular Portuguese.
Keywords: Translingualism; Transculturalism; Madeiran emigration; South Africa and Venezuela; Identity; Sociocultural Linguistics.
 
OLHARES CRUZADOS | CROSSED VIEWS  _ CAPELA DA BOA VIAGEM. Núcleo Difusor de Arte e Cultura Contemporânea

 

Curadoria de Hélder Folgado
+ info. sobre o projeto aqui
 
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DIÁLOGOS|  DIALOGUES
Aqui Não Consigo Sonhar: pequeno manual para a Empatia | Catarina Claro e Cristiana de Sousa  [21.12.2022]
O ensaio visual “Aqui Não Consigo Sonhar: pequeno manual para a Empatia” nasce de um diálogo entre as fotografias de Underline Pictures – Pedro Freitas, realizadas no âmbito do Projeto Trégua – Práticas Artísticas para a Reinserção Social e uma frase escrita por um participante durante um exercício de criação de statements para stencil, aquando da Residência de Arte Pública (uma das cinco Residências Artísticas desenvolvidas durante o projeto).”
 
NU_MERO |  António Dantas. Tiago Rodrigues. Carlos Marques. Eduardo Freitas. Hélder Folgado. manuelrodrigues. Paulo Ansiães Monteiro, PAM. Paulo Freitas. Raul Albuquerque   [22.08.2022]
Não se propondo como um projecto editorial e procurando não se esgotar num projeto expositivo colectivo, a identidade NU_MERO, desde 2017 procura, num objecto mutável, oscilar alternadamente entre duas realidades: expositiva e folheável.
 
 SUGESTÕES DE LEITURA |  BOOK REVIEWS
 

Davide Drumond (2022), Não se entra duas vezes no mesmo rio, Funchal/Lisboa: Âncora Editora/CMF, 110pp.. ISBN: 978 972 780 812 0 [Prémio Lit. da Cidade do Funchal Edmundo Bettencourt]

Alda Barreiros & Maria Alves (2022), Os de Lá de Riba. Os saberes e o linguajar de um povo, Monção: Município de Monção, 281pp. . ISBN: 978-989-53534-0-8

AAVV (2022),Teatro Experimental do Funchal. 45 anos de Teatro 1975-2020, Funchal: the one line design, 312pp.. ISBN: 978-989-53738-0-2 

  Nota de leitura de José Emílio Pedreira Moreir[2022.12.11]