Imagem de capa © Óscar Araújo |
Coordenação | Ana Salgueiro (UMa-CIERL/CECC-UCP) & Sara Bonati (Università di Genova-DISFOR/UMa-CIERL) |
Convite à publicação em Português aqui [normas de edição], data limite:
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Ouverture _ pre.lú.di.o | Ana Salgueiro & Sara Bonati |
ENSAIOS VISUAIS| VISUAL ESSAYS |
arenices – paisagens transitórias | josé campinho [06.10.2022] |
“Expostas à força do vento, as areias da praia do Porto Santo configuram micropaisagens transitórias surpreendentes. Relevos volúveis de geometrias e padrões inusitados mostram a praia no seu estado virginal, sem o pisoteio do período balnear.[…]” |
5 Plátanos _todos os dedos da mão | ou a anulação da paisagem _ferida urbana | António Barros [05.01.2023] |
“A residencial universitária da Av. Emídio Navarro – em memória e homenagem aos Plátanos assassinados – traz na fachada as cores do sangrento corpo violentado dessas árvores, hoje mortas. Aí surgirá umaparagem do MM, tudo para que os utentes formulem um pedido de perdão à Natureza, essa amputada pela obtusidade de indigno querer. Coimbra do MondeEgo do MondeGo” |
RIBEIRA | Entre duas escarpas, uma linha de água | Paulo David e Daniela Arnaut com Ângela Monteiro, Clara Oliveira, Leandro Arez, Manuel Baptista, Maria Mendoça, Maria Salazar de Sousa, Rita Figueiredo, Tiago Ribeiro (Mestrado Integrado em Arquitectura, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa) [18.03.2023] |
” […] No ano lectivo 2020/2021 o lugar de investigação identificado foi a Ribeira João Gomes localizada na cidade do Funchal, um lugar segregado e marginalizado, que espelha a sua condição no conjunto urbano que compõe as suas encostas. Um conjunto essencialmente habitacional composto por edificações dispersas que derivaram de um crescimento espontâneo e desordenado, apoiado por estruturas rurais pré-existentes susceptíveis ao risco de deslizamentos e incêndios. Um corredor ecológico que carece de intervenção urgente e cuja reflexão proposta pretendeu convocar uma nova respiração programática para o lugar. Paralelamente e como tema unificador foi proposto o “desenho do ar”, entendendo “o vazio como uma travessia de ar, uma actividade entre objectos, uma entidade de fluxo, vibrante, contínuo, percorrível, invisível, mas que concerta o espaço, um recurso do estar entre os objectos-edifícios”.A Ribeira João Gomes é um lugar onde o impacto de catástrofes naturais se faz sentir, um lugar de fronteira, um lugar de inscrições desarticuladas, onde formas de habitar se revestem de um carácter marginal, numa condição de emergência que urge avaliar. A compreensão do lugar inclui não só as tensões sociais verificadas, mas também a abrupta condição topográfica que determina a apropriação do território. As propostas apresentadas promovem mudanças radicais nas formas de habitar e na habitabilidade da cidade, através da descoberta de propostas qualificadas num território escarpado e marcado pela impossibilidade. Surgem novas formas de habitar através de estratégias de conciliação com o existente, discutindo flexibilidade e co-existência. […]” |
Paisagem Carioca em Transformação. Pão e Carnaval no Porto Maravilha do Rio de Janeiro | Carlos Balsas (University of Denver e Ulster University) [09.07.2023] |
Os eventos são oportunidades para reconstruir e promover cidades (Balsas, 2004). A perplexidade subjacente a este ensaio é a necessidade de documentar como é que estratégias urbanas são frequentemente apropriadas, repetidas, e implementadas de forma “copy paste”, independentemente do lugar (Balsas, 2005). O Porto Maravilha foi realizado na área portuária do Rio de Janeiro em antecipação aos Jogos Olímpicos de 2016. Este ensaio aponta momentos no planeamento, implementação, e resultados preliminares do programa Porto Maravilha. Embora a metáfora do “pão e carnaval” possa ser utilizada para analizar o urbanismo empresarial, aqui é de resalvar as idiossincrasias da cultura brasileira (Balsas, 2017). Apesar do icónico Museu do Amanhã lembrar o centro de transportes do World Trade Center em Manhattan, o evento também celebrou a indigeneidade brasileira retratada na evolução do interface terra-água, nas funções portuárias, nas identidades locais, e na herança afro-brasileira. |
All Islands Are Mountains: Questioning the Power of Discomfort | Nuno Serrão [24.07.2023] |
The visual essay titled “All Islands Are Mountains: Questioning the Power of Discomfort” presents an exploration of the impact of speed and progress on the environment and humanity. The author reflects on the contrasts and complexities of the Madeira landscape, where traditional and modern ways of life coexist. The paper discusses how the increasing immediacy and comfort of modern life have made us lose touch with the discomfort and uncertainty that once fueled our quest for knowledge and understanding. The author employs a medium-format analogue camera to capture the landscapes and invites the audience to slow down and reflect on the human condition. The visual exploration highlights the power of stillness and raises questions about the consequences of progress on nature and society. The paper challenges the prevailing notions of comfort and immediacy and invites us to re-consider the value of discomfort and uncertainty in our lives. Overall, the visual essay presents a thought-provoking analysis of the impact of modernity on the environment and humanity. It encourages us to slow down and reflect on the deeper questions that arise from discomfort and uncertainty, and to re-examine our relationship with progress and comfort. |
Losing a Landscape: Havant Thicket Reservoir | Frankie Knight (Solent University, Southampton) [25.07.2023] |
“Ancient woodland and natural habitats in the United Kingdom are declining despite the urgent need to tackle critical biodiversity loss and the climate crisis. This project focuses on the current construction of the Havant Thicket Reservoir, a 8.7 billion litre storage reservoir spanning 160 hectares just north of Portsmouth on the south coast. The site contains rare grasslands and ancient woodlands and is home to rare species of bats, newts and skylarks. Before construction started, Frankie Knight explored the landscape and was shocked by the natural beauty that was going to be destroyed. She responded by connecting with her local community, interviewing and photographing 11 members of the ‘Stop the Chop’ (now known as Havant Thicket for Nature) campaign group. Further audio recordings and photographs captured the grassland, the avenue of ancient oaks, and waterways that run through the marsh, all of which have now been lost. […]” |
ARTIGOS e ENSAIOS| ARTICLES and ESSAYS |
A fratura da paisagem em Valter Hugo Mãe: vulnerabilidade e resiliência na novíssima literatura portuguesa contemporânea | Márcia Manir Miguel Feitosa (Universidade Federal do Maranhão) [28.07.2023] |
Resumo: Objetiva-se com esse artigo trazer à tona um dos autores mais consagrados da Novíssima Literatura Portuguesa – vertente contemporânea que tem se proposto a romper com temas e formas de construção de seus elementos: Valter Hugo Mãe. Autor de romances premiados pela crítica, Valter Hugo Mãe também tem escrito contos, tão excepcionais quanto as narrativas longas. Dentre eles, Contos de cães e maus lobos, de 2015, foco desse estudo, em especial o conto “Quatro velhos”. À luz da Geografia Humanista Cultural, de base fenomenológica, será dada ênfase à geograficidade, enquanto essência geográfica do ser-estar-no-mundo, e à paisagem em movimento, de modo a demarcar sua vulnerabilidade e resiliência. Para tanto, constituirão o aporte teórico os estudos de Bachelard (2008), Dardel (2011), Tuan (2012; 2013) e Marandola Jr e Hogan (2006). Do ponto de vista metodológico, configura-se uma pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico. Palavras-chave: Geograficidade; Vulnerabilidade; Resiliência; Novíssima Literatura Portuguesa Contemporânea; Valter Hugo Mãe. |
Abstract: Our goal with this article is to highlight one of the most hallowed authors of the Newest Portuguese Literature – contemporaneous movement that has proposed to disrupt with themes and construction forms of its elements: Valter Hugo Mãe. Author of critically acclaimed novels, Valter Hugo Mãe has also written short stories just as exceptional as his longer narratives. Among these, Contos de cães e maus lobos, from 2015, the focus of this study, especially the “Quatro velhos” short story. Under the light of the Cultural Humanistic Geography of phenomenological base, we will emphasize geographicity as the geographical essence of being-in-the-world, as well as the moving landscape as a way of marking its vulnerability and resilience. For such, the studies of Bachelard (2008), Dardel (2011), Tuan (2012; 2013), and Marandola Jr and Hogan (2006) comprise our theoretical framework. From the methodological point of view, this is a bibliographical qualitative research. Keywords: Geographicity; Vulnerability; Resilience; Newest Portuguese Literature; Valter Hugo Mãe. |
Instrumentalização da paisagem da Argemela | José Pedro Domingues Cerdeira [15.01.2024] |
Resumo: A Serra da Argemela, situada entre os concelhos do Fundão e da Covilhã, é um exemplo muito claro da forma como a paisagem é mobilizada para discutir assuntos que vão desde as impressões de um determinado grupo populacional sobre o lugar onde vive, até aos grandes desígnios globais como, por exemplo, as alterações climáticas ou a influência dos conflitos bélicos. Numa instabilidade crescente sobre o destino desta serra, questiona-se o sentido da paisagem, nomeadamente as formulações de discursos que invocam a paisagem e os grupos sociais que constroem essas mesmas narrativas. Sendo esta serra alvo de posições tão opostas sobre o seu futuro, como se definem e como se discutem as vulnerabilidades e as resiliências, de forma a enquadrar o conjunto de ações a realizar? A acrescentar à dificuldade inerente de organizar uma discussão tão complexa, dada a multiplicidade de intervenientes e narrativas, terão as populações os dispositivos e a literacia necessários para participarem conscientemente na construção da paisagem? Palavras-chave: paisagem, território, bem-comum, Serra da Argemela, narrativa. |
Abstract: Argemela Mountain, located between the municipalities of Fundão and Covilhã, serves as a clear example of how the landscape can be used to address issues ranging from the perceptions of a particular population group about the place where these people live, to global concerns such as climate change or the impact of armed conflicts. In a growing instability about the fate of this mountain, the meaning of the landscape is questioned, particularly regarding the discourses that shape it and the social groups that create these narratives. Given the opposing views on what the future of the mountain should look like, how can we define and discuss the set of vulnerabilities and resilience in order to guide future actions? Additionally, the challenge of organizing a discussion that involves so many different actors and narratives can be overwhelming. Do the populations have the necessary tools and literacy to consciously participate in shaping the landscape?. Keywords: landscape, territory, common good, Argemela Mountain, narrative |
OLHARES CRUZADOS | CROSSED VIEWS _ Paisagem e Arquitetura da Vinha, Percursos Interpretativos [Exposição de David Oliveira e Martinho Mendes no Centro Cívico do Estreito de Câmara de Lobos, 2022] |
Paisagem e Arquitetura da Vinha, Percursos Interpretativos | David Oliveira [13.08.2023] |
Resumo: A exposição apresentada em setembro de 2022 no Centro Cívico do Estreito de Cãmara de Lobos constituiu-se como um conjunto de ferramentas para dar a ver a paisagem vitícola da Madeira, através da sua representação e teve a sua génese em Terroir Madeira: Uma vocação reencontrada, (trans)formações na arquitetura da paisagem vitícola, uma investigação realizada no âmbito de Mestrado Integrado em Arquitetura na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto em 2018-2019, da autoria de David Oliveira (1994), natural desta freguesia. Através de uma visitação multiescalar a vários pontos da Ilha, a exposição propôs levantar reflexões e discussões sobre a (trans)formação da paisagem vitícola como forma de reencontro da sua original vocação produtiva, em alternativa ao abandono e/ou à sua passiva contemplação. Uma narrativa que procura sensibilizar as comunidades para os impactos dos diferentes intervenientes sobre o território agrícola. A paisagem ali evocada é entendida como um organismo vivo, nalguns casos em renovação, noutros em rutura com a tradição. Renovação, porque, apesar da alteração dos materiais de construção, das culturas agrícolas, e do estilo de vida da população, a identidade da paisagem permanece, respondendo eficazmente às necessidades e aos valores do seu tempo. Rutura, porque a substituição dos sistemas construtivos, testados num tempo alargado por outros sistemas estandardizados e menos eficientes a longo prazo, pressupõem um grande risco para a segurança das populações e para a sustentabilidade da agricultura. A exposição suportou-se no desenho, enquanto instrumento privilegiado para interpretar, analisar e sintetizar as qualidades e as fragilidades da paisagem vitícola nas últimas décadas, onde o Estreito de Câmara de Lobos é caso de estudo. Em diálogo, foram apresentados registos documentais, gráficos e artísticos do Ateliê de Paisagem: representar a vinha a partir de António Aragão, uma atividade orientada por Martinho Mendes no âmbito da educação sénior, dinamizada pelo Serviço Educativo do Museu de Arte Sacra do Funchal, com os utentes do Centro Comunitário Vila Viva do Estreito de Câmara de Lobos, em 2021. Palavras-chave: Paisagem, Arquitetura, Desenho, Transformações, Viticultura. |
Abstract: The exhibition presented in September 2022 at the Civic Centre of Estreito de Câmara de Lobos was a set of tools to show the viticultural landscape of Madeira, through its representation and had its genesis in Terroir Madeira: A reencountered purpose, (trans)formations in the architecture of the viticultural landscape, a research carried out within the scope of the Integrated Master’s Degree in Architecture at the Faculty of Architecture of the University of Porto in 2018-2019, by David Oliveira (1994-), a native of this parish where the exhibition took place. Through a multi-scalar visitation to various points of the Island, the exhibition proposed to raise reflections and discussions on the (trans)formation of the viticultural landscape as a way of rediscovering its original productive purpose, as an alternative to abandonment and/or passive contemplation. A narrative that seeks to sensitise communities to the impacts of the different actors on the agricultural territory.The landscape evoked there is understood as a living organism, in some cases in renewal, in others in rupture with tradition. Renewal, because despite the change in building materials, agricultural crops and the quality of life of the population, the identity of the landscape remains, responding effectively to the needs and values of its time. Disruption, because the replacement of time-tested building systems by other standardised systems that are less efficient in the long term poses a great risk to the safety of the population and the sustainability of the whole agricultural cycle. The exhibition was based on drawing, as a privileged tool to interpret, analyse and synthesise the qualities and weaknesses of the viticultural landscape in recent decades, where Estreito de Câmara de Lobos is a case study. In dialogue, documentary, graphic and artistic records of the Landscape Workshop were presented: representing the vineyard from António Aragão, an activity guided by Martinho Mendes in the context of senior education, promoted by the Educational Service of the Museum of Sacred Art of Funchal, with the users of the Vila Viva Community Centre of Estreito de Câmara de Lobos, in 2021.
Keywords: Landscape, Architecture, Drawing, Transformations, Viticulture |
DIÁLOGOS| DIALOGUES |
Os rios e os seus mediadores | Coletivo Guarda Rios [Álvaro Fonseca, Francisco Pinheiro e Nuno Barroso] [04.08.2023] |
“Somos um coletivo de investigação e criação em torno dos territórios ribeirinhos. Propomos uma cultura da água e uma aproximação aos rios, através de ações artísticas participativas e processos de co-aprendizagem, convivialidade e celebração. Desde 2019 temos percorrido geografias que vão do interior ao litoral, de norte a sul do país, dos meios rurais aos centros urbanos, em sucessivas residências artísticas, nas quais mapeámos questões relacionadas com a gestão da água ou o impacto humano sobre os ecossistemas fluviais, e que partilhámos em eventos, exposições e atividades com público.[…] as pessoas com quem nos cruzámos vivem de facto em sacrifice zones (na aceção de Nick Estes), ou seja, lugares que foram profundamente alterados a pretexto de produzir energia ou de extrair algum tipo de recurso da terra. Em Portugal estas “zonas de sacrifício” social e ambiental, têm servido para a construção de barragens (Douro, Tejo, Guadiana), para a plantação de monoculturas de eucalipto (celulose) ou de olival (azeite) e para a exploração mineira (cobre, zinco, tungstênio, volfrâmio, existindo crescentes prospecções para a extração de lítio).[…]” |
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Il cammino collettivo come forma di cura del paesaggio. Un’intervista a Pierangelo Miola di Vaghe Stelle e TerrazziAmo, condotta da Sara Bonati [21.01.2024] |
“L’intervista di seguito presentata è stata svolta nella primavera del 2023 a Pierangelo Miola di Vaghe Stelle e TerrazziAmo e con lui abbiamo provato a ragionare di paesaggi vulnerabili e resilienti. Le iniziative di cammino collettivo di cui Pierangelo ci racconta hanno nell’approccio slow, nella condivisione e nella partecipazione punti chiave per scoprire e prendersi cura del paesaggio. Pierangelo ci conduce, così, in diverse regioni del nord Italia, in particolare Veneto e Liguria, territori sottoposti a profondi processi di consumo del suolo e trasformazione del paesaggio con implicazioni significative anche nella costruzione di dinamiche di rischio riconducibili principalmente a situazioni di dissesto idrogeologico. Queste esplorazioni, attraverso la lentezza e la collettività del loro approccio, emergono come utili strumenti per comprendere e interagire in profondità con i territori attraversati e cogliere la molteplicità di fattori che contribuiscono alla costruzione delle loro fragilità ma anche delle loro resilienze.” |
SUGESTÕES DE LEITURA | BOOK REVIEWS |
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Henrique Pereira dos Santos e Duarte Belo (2022), Das pedras, pão, Lisboa: Museu da Paisagem, 256pp. ISBN: 978-989-53820-1-9 | Gonçalo Ribeiro Telles (2022) Textos escolhidos, Lisboa: Argumentum, 224pp. ISBN: 978-989-88852-0-3 . ………………… | ||
Recensão | José Campinho [20.09.2023] |